Tempos
atrás, durante um curso de Pós-Graduação, onde ministrava uma disciplina
relacionada com a prática do ensino da História, fui abordado por um aluno
sobre a dificuldade que ele sentia, enquanto professor, para tratar de assuntos
como a Origem do Universo. Daí surgiu a necessidade deste texto,
como proposta para iniciar uma discussão com os aluno sobre a temática.
A curiosidade humana sobre a origem,
evolução e destino do Universo tem suscitado, ao longo do tempo, valorosos
debates que transitam do campo mitológico para o teológico e deste para o
filosófico, sendo que hoje o debate foi transferido para a ciência, a exemplo
da Cosmologia, Astronomia, Física, Matemática, bem como a Astrofísica. Como podemos
deduzir, a discussão foi transferida para o âmbito da ciência experimental e
teórica. Apesar disso, muitas das afirmações e muito do que sabemos sobre o
Universo, não passa de especulações, mesmo quando a especulação parte de uma
pretensa afirmação científica, pois faltam os instrumentos e os recursos
comprobatórios das pesquisas cosmológicas, tão necessários à observação.[i]
O que tem “retardado” o
desenvolvimento dos conhecimentos científicos sobre o Universo? Na verdade, não
podemos falar em retardamento, em sentido estrito, apenas em sua compreensão
mais larga, como atestam o que já foi conquistado pela ciência em afirmações e
teorias comprovadas, tais como: a teoria Heliocêntrica, Copérnico; Lei da
Gravitação, Newton; Relatividade Geral, Einstein; Expansão do Universo, Edwin
Hubble; Radiação cósmica de fundo, George Gamow; A idéia de que se o Universo
teve um princípio, então terá um fim, Stephen Hawking. Tudo isso e muito mais,
não é pouco! Ao contrário, caminhamos mais nos últimos 400 anos de pesquisas
sobre o Cosmos do que em milênios de especulações que antecederam os quatros
últimos séculos. No entanto, quando falamos em atraso do conhecimento sobre o
Universo, queremos indagar o por quê de não se fazer afirmações mais
conclusivas sobre sua origem e natureza, como de resto se faz em outros campos
do saber científico!
Atribuímos tal resistência, isto é,
a morosidade das afirmações cosmológicas, ao fato de que as observações sobre o
cosmos serem prejudicadas devido as grandezas das medidas universais, tais como
distância, temperatura, geometria ( geo ???) e topografia espaciais.[ii] Essas grandezas estão
muito além do que os nossos equipamentos de observação conseguem captar. Além
disso, ainda temos que enfrentar uma espécie de camisa de força sobre a nossa
capacidade mental, trata-se de estarmos limitados à noção de tempo e espaço
terrestres e termos que lidar com dimensões que extrapolam toda a referência
temporal e espacial.[iii]
Não obstante as considerações a
cima, já podemos nos indagar e obtermos respostas, com uma certa margem de
segurança, sobre como surgiu o Universo? O Universo está pronto e acabado, ou
está em constante expansão? Há fronteiras no Universo? Um dia o Universo terá
fim? O que são os buracos negros? E tantas outras questões que já podemos
vislumbrar uma comprovação empírica acerca de suas respostas.
A questão elementar no estudo sobre
o cosmos é a de sua origem. Para explicar a origem do Universo vários modelos
já foram testados, mas o mais aceito é o do Big Bang. Este modelo foi elaborado em 1922, obtido como solução
das equações da relatividade geral, nos estudos de Alexandre Friedmann( físico
Russo ), cuja consequência mais importante deste paradigma foi a de concluir
que o Universo está em expansão ( Hubble )[iv]. O modelo explicativo da
origem do universo a partir do Big Bang,
apesar de ser nóvel, segue o esquema o esquema teórico de Copérnico, segundo o
qual o universo é de natureza homogênea. Assim, só se pode conceber um ponto de
onde o universo teria se originado, caso consideremos sua homogeneidade, do
contrário, teríamos que adotarmos outro modelo que partiria da ideia de
múltiplos pontos de origem, sendo o universo, portanto, heterogêneo[v].
O Big Bang, ou a grande explosão, que deu origem ao universo ocorreu em
um ponto qualquer, não em um espaço determinado, até porque esse espaço não
existia, fora criado no ato da explosão, num instante zero ( t= 0 ). É,
literalmente, o início dos tempos – ou o tempo. O que teria provocado o grande
estouro? Bem, gostaríamos de saber, por enquanto temos que nos contentar apenas
com o entendimento de seu funcionamento, digo, da singularidade dessa explosão:
“ tudo “ foi concentrado num único ponto com imensa densidade e temperatura
inimagináveis e, de repente, desse ponto tudo explode, e tudo isso teria
ocorrido a aproximadamente quinze bilhões de anos. Para termos uma vaga ideia
dessa explosão, basta considerarmos que a luminosidade ( radiação de fundo )
proveniente do estouro ainda continua no cosmos, nas suas “ bordas “ de
expansão, bem como o som originado por ela ainda viaja pelo espaço infinito[vi].
Milton Barboza da Silva
Curso de Prática do Ensino da História
Março de 1997
[i] Para se ter uma noção da
fragilidade da compreensão dos estudos cosmológicos, lembremos que a distância
entre o Sol e a Terra é de apenas 150 milhões de Km; que as distâncias cósmicas
são medidas em megaparsecs onde 1 mgp é da ordem de 30.000.000.000.000.000 de
Km; que o tempo que uma estrela de
nêutron ou uma anã branca levaria para se transformar em um buraco negro
é de 101000 anos, ou seja, o número 1 seguidos de mil zeros. Isso
tudo é demais para a captação atual dos instrumentos a disposição do homem.
[iii] A única maneira que teríamos
para representar geometricamente o cosmos em três dimensões, porém
precisaríamos estarem quatri
dimensões, pois somente alguém que se encontre na quarta dimensão conseguiria
representar um objeto tridimensionalmente, assim, a topografia do universo fica
prejudicada por essa impossibilidade espacial e temporal.
[iv] A expansão do universo foi
comprovada por Edwin Hubble, em 1930, que aplicando o efeito de Doppler (
segundo o qual quando as Galaxias se afastam fazem com que o espectro [cores ]
variam do tom violeta ao vermelho ), Hubble concluiu que quanto mais distantes
as galáxias mais avermelhadas elas ficam.
[v] Na verdade, não podemos
ainda afirmar, categoricamente, que o universo seja homogêneo ou heterogêneo.
Trata-se de modelos teóricos que podem se ajustar a um ou outro sistema de
pensamento cosmológico. No fundo não importa muito, isto é, não alteraria
fundamentalmente as conclusões dai advindas.